sexta-feira, 27 de abril de 2012

A bolsa estourou!! Parte II

Estava anestesiada, mas pude sentir você saindo de dentro de mim, era como se alguém estivesse me chacoalhado e sugando algo de mim. 

Logo que você nasceu, te levaram correndo para o centro neonatal,  mal pude te ver. Só a vi toda enrolada por lençóis sendo levada rapidamente.
Eu sabia que isso aconteceria, já tinham me avisado que era o procedimento, mas não achava que fosse desse jeito.  Era tanta emoção que eu sentia que só conseguia pensar em ficar perto de você, queria você ali nos meus braços. Queia ver seu rostinho. Um sentimento estranho, sabia que você estava bem, que tinha nascido bem porém não tinha te visto, não tinha olhado nos teus olhos... 
Foram meses de preparação lendo livros, pesquisando e minha parte favorita era quando o neném saia da barriga da mãe e era apresentado para ela, e ele a reconhecia! Achava o momento mais lindo, e esperava ansiosa por isso.
Mas e eu? Quando seria apresentada para minha filha? Quando ela poderia me ver e saber que eu estava ali do seu ladinho? Quando poderíamos olhar nos olhos, sentir uma a outra? Esperei tanto por esse momento, sonhava tanto com ele...

Nisso disseram que a Dani Capato poderia acompanhar você, e lá foi ela correndo para ficar do seu ladinho.
Fiquei sozinha com os médicos sendo costurada, me sentia mais confortável em saber que a Dani estava lá. Parecia eterno aqueles minutinhos. Eu perguntava o tempo todo de você e diziam que você já estava vindo. Depois de algum tempo veio a Dani Capato primeiro, toda emocionada dizendo que você era linda e não era tão  pequena assim não. Ela tinha cortado o cordão umbilical! Estava eufórica..rss  Eu queria saber tudo!!  Fiquei muito feliz em saber que ela tinha cortado o cordão, fiquei muito emocionada! 

Passado algum tempo vieram eles trazendo você, quando te vi não pude conter a emoção, era muito sentimento de uma vez só, você sente algo que é difícil de explicar, parece um turbilhão de emoções juntas. Colocaram você bem próxima de mim com todo aquele equipamento, dentro da incubadora, foi aí que tivemos nosso primeiro contato mãe e filha, você abriu os olhinhos como se soubesse que eu estava ali esperando ansiosa por isso. E eu pude olhar profundamente nos seus olhos, eram como se estivéssemos nos comunicando, aquele vidro daquela incubadora não foi pário para impedir o sentimento de amor uma da outra, para finalmente conhecermos o rostinho uma da outra.

Depois disso te levaram para o centro neonatal novamente e eu poderia vê-la assim que fosse liberada do pós operatório. E lá fomos nós para o pós operatório, disseram que assim que eu conseguisse erguer meus pés até uma certa altura eu poderia sair. Eu tentava ergue-los o tempo todo. Mas demorou algumas horas para que isso acontecesse. 
Finalmente, me levaram na cama mesmo para vê-la no Neonatal. Pude ficar lá por alguns minutos te observando, te admirando. Claro que eu gostaria de te pegar nos bracos, te abracar, sentir seu calorzinho, queria que você não estivesse ali, queria que estivesse no quarto junto comigo. Mas mesmo assim eu estava feliz, feliz por você estar bem, feliz por você estar ali perto de mim. 
Fui para o meu quarto que ficava em outro andar, aí era hora de respirar fundo e ligar para o papai. 

Ele estava chegando em Stockholm, o avião não tinha nem pousado quando liguei e ele logo atendeu. Falei que nosso presentinho de Deus tinha nascido!! Ele ficou muito emocionado, ficou sem fala e a ligação caiu. Me  mandou SMS dizendo: Já te ligo, estou muito emocionado não consigo falar! É muita alegria!! 
Claro que fiquei emocionada com isso, era um momento tão lindo e tão especial pra gente. 
Nossa família estava crescendo!! Nosso amor gerou um frutinho e ele estava com a gente agora!!  Deus nos presenteou!! E que presente viu!!

Depois de algumas horas o papai chegou e fomos lá vê-la! Ele se apaixonou quando a viu, ficou todo bobo e emocionado. E não é pra menos, você era  tão  pequenina mas tão cheia de vida, cheia de forças e  tão  linda!

Aí começaria a parte difícil ficar longe de você enquanto você estava no centro neonatal....




quinta-feira, 12 de abril de 2012

A bolsa estourou!! Parte I


16 março de 2012 - 31 semanas +2 dias.

Papai viajando, iniciando terceira semana no Japão. Fim de semana chegando, mamãe foi para a casa dos nossos amigos Capatos. Tudo normal, semana foi tranquila, estudamos muito! E muitas saudades do papai, mas tudo normal!


17 março de 2012-31 semanas +3 dias.


Sábado lindo! Acordei e fui falar com o papai no Skype,quando levantei do sofá para ir até a cozinha senti algo molhado descendo. Pensei pronto! Só o que me faltava, fiz xixi nas calças! Que vergonha! Shame on me!
Saí correndo pro banheiro, quando percebi que não era xixi coisa nenhuma. Era transparente e tinha molhado toda minha calça e aquele liquido continuava descendo..
Nem sei o que pensei na hora, chamei a Dani Capato correndo, esperando que ela me dissesse  que não era a bolsa que tinha estourado. A Dani Capato é experiente no assunto, o Tato (primeiro filho dela) nasceu prematuro e aconteceu tudo muito parecido. Então decidimos ligar pro hospital. No fundo sabiamos que tinha sido a bolsa, mas a esperança é a última que morre.

Liguei pro hospital expliquei como tudo aconteceu e  nos mandaram pra lá. Voltei no skype e falei pro papai que a bolsa estourou. Ele ficou meio sem reação e sem saber o que fazer, talvez não tivesse entendido o que tinha acontecido e não estava esperando por aquilo. Mas  nos ligando o tempo todo, e lá no Japão já era tarde da noite.

No hospital me examinaram e comprovaram que a bolsa tinha realmente estourado, nos exames mostrou que o rompimento não tinha sido por bactéria.
Passamos aquela noite no hospital, a Dani Capato não me deixou sozinha nenhum momento. Este com a gente o tempo todo.
Me disseram que tentariam manter minha filinha o máximo de tempo possível no útero, enquanto não tivesse infecções e contrações lá seria o melhor lugar para ele.

Nisso me deram a primeira dose de Cortisona, para fortalecer os pulmoes quando ela nascesse. Seriam duas doses de Cortisona, a segunda eu tomaria depois de 24 horas.
Os médicos falavam que tínhamos que esperar e ver (Wait and see!!),  ou seja paciência Daniele!! Paciência!! Essa é sua palavra mais uma vez.
Eu estava bem calma mas é claro que me preocupava com minha filha querida.
As contrações começaram neste dia, fui medicada praticamente o dia todo para que elas parassem.


18 março de 2012-31 semanas +4 dias.

Aniversário do papai!! Que mal foi comemorado, papai já estava preocupado e não tinha conseguido voo para voltar logo, só para o dia 19/3, chegaria aqui  as 19hs. Será que nossa Sophie aguentaria esperar?

Claro que nossa pequena tentou nascer no dia do aniversário do papai, as contrações ficaram mais fortes, colocaram um medicamento mais forte, um remédio que asmáticos usam.
O remédio dava uma batedeira danada no coração (disseram que era normal) e  claro que não consegui dormir com toda aquela escola de samba dentro de mim.

19 março de 2012-31 semanas +5 dias.
A noite não tinha sido boa, a medicação tinha me deixado cansada, parecia que eu tinha corrido uma maratona. Quando foi por volta das 10 da manha as contrações pioraram, e o remédio de asmático não estava contendo.
Estavam mais fortes e mais próximas uma da  outra, já estavam com menos de 1 min cada uma. A Dani Capato  estava sempre do meu lado segurando minha mãe, não que a dor passasse com isso, mas o fato de sentir o aperto da mão dela me confortava naquela hora e me ajudava a concentrar na respiração.
A respiração ajudava  muito!! Eu fechava o olho respirava fundo e soltava o ar devagar, igual nas aulas de Pilates. Isso faz com que nosso cérebro tire o foco da dor, pois se você focar na dor aí você se descontrola e a dor parece ser mais forte. Nos intervalos das contrações a Dani Capato entrava no Skype e atualizava o pessoal, meus pais, amigos e os pais dos amigos também. Estavam todos numa forte corrente de oração pela gente.

As contrações piorando cada vez mais, me levaram para outra sala para usar o gás para aliviar a dor. Enquanto isso a médica veio me comunicar que eles tinham decidido que  iriam fazer o parto. A neném estava sentada, não tinha como virá-la por causa do útero bicórnio. O bumbum dela empurrava a cervix mas não dilatava, e nisso as contrações  só pioravam. então teria que ser uma cesária.

Pois bem, naquela hora só o que eu pensava era na minha filha, as contrações estavam fortes e a cada contração o coraçãozinho dela batia mais fraco. Qualquer coisa que eles fizessem para salvar  minha filha, estava ótimo!
Concordei com a cesária e logo o anestesista  foi falar comigo. Era um rapaz muito bonzinho e atencioso, super carismático. Me senti bem confiante. Ele fez um monte de perguntas e disse que logo nos encontraríamos na sala de cirurgia.  Eu tinha que responder as perguntas dele em menos de um minuto, era o intervalo que eu tinha entre as contrações , difícil era ainda ter que pensar em inglês e as vezes em espanhol porque uma das midwives era do Chile.

Rapidamente as midwives começaram a me preparar para a cirurgia, trocaram minha roupa, tiraram meus brincos, pulseiras, aliança..como toda cirurgia. A médica pediatra responsável pelo centro neonatal, veio conversar comigo e me explicar tudo que ia acontecer(ou poderia acontecer) com minha filinha após o nascimento.
E lá fomos nós!  Nunca tinha feito uma cirurgia antes e nunca tinha estado numa sala de cirurgia, para mim tudo era novo, muita gente na sala, cada um fazendo uma coisa diferente. Cada pessoa se apresentou e disseram o que fariam e pelo que eram responsáveis.

Claro que me certifiquei que a Dani Capato estaria comigo, expliquei que meu marido a essa altura estava voando para cá. E todo mundo do hospital já sabia do caso do pai que estava no Japão. O papai ficou conhecido filha, e quando ele chegou no hospital todos achavam que ele era Japones mesmo..rss

A dor estava insuportável nesta hora, era uma contração em cima da outra, parecia que não tinha mais intervalo de descanso. Uma das vezes que esqueci de respirar certinho e senti que quase perdi a consciência. Você se sente perdida, desorientada sem saber o que fazer. Aí lembrei de respirar e tudo melhorou.
O anestesista bonzinho me aplicou a tão temida por mim anestesia!! E eu não senti nada! Tudo que eu conseguia sentir era a dor das contrações que pareciam ser infinitas.

De um lado eu tinha a Dani Capato que uma mão segurava a minha e a outra acariciava minha cabeça, do outro o anestesista que também me deu a mão o tempo todo. Eu não quis  ver a cirurgia através do espelho, achei que seria abusar demais da minha coragem. Eu já estava calma e corajosa demais até ali.. melhor não abusar.
A Dani Capato assistiu tudo! Ela te viu nascendo filha!
Eu perguntava toda hora quando eu ouviria você chorando, se você já tinha nascido. Estava muito preocupada com você.

Até que uma hora ouvi um resmungo baixinho!  Você não chorou alto, mas tinham me dito que era normal com prematuros que alguns choram depois. E quando te ouvi pela primeira vez,  sabia que você estava bem, todo aquele medo se foi. Veio uma felicidade inexplicável, uma vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo, algo divino.
Depois de uma cesária  bem demorada por conta do útero bicórnio, fomos presenteados por Deus com esse anjinho em nossas vidas.

E foi no dia 19/3 as 14:05hs com  1,201kg e 38 cm que ganhei o maior presente da minha vida, uma sensação única inexplicável que não cabe em palavras.

Eu sabia que a partir de agora tudo seria diferente...